Eu me supero
Sábado, oito horas da manhã. Ouvi um som ao longe… que foi ficando mais próximo. Pensei “deve ser o telefone”. Cobri o nariz com o cobertor e esperei parar de tocar, ou eu parar de sonhar com aquele barulho estridente. Não adiantou, devo ter deixado a raiz do cabelo de fora das cobertas, por que o dito aparelho descobriu que eu estava em casa e tocou de novo. “É o telefone”… estendi a mão até o aparelho, enquanto decidia se estava acordada ou sonâmbula. Não lembro se resmunguei um “alô” ou coisa parecida, mas o entusiástico “Bom dia!” do outro lado da linha fez com que os meus dois neurônios entreabrissem os olhos. Devo ter respondido alguma coisa para aquela voz do além, pois ela logo tascou a pergunta, assim, à queima roupa, sem anestesia nem nada: “É da casa da Vanessa?”
Eu quase acordei… pensei na Vanessa Camargo, mas definitivamente não estavam ligando para ela. “Não, minha senhora, aqui é…” e repeti os números que compunham meu contato telefônico. Voltei a meter o nariz debaixo das cobertas, e quando tentava decidir se eu ia sonhar com o Paulo Zulu ou com o Brad (isso, sem sobrenome, porque há que se ter um certo grau de intimidade, já que ele freqüenta meu inconsciente vez ou outra), eis que toca mais uma vez dito cujo aparelho. Suspirei fundo, sacudi a cabeça na esperança de fazer cair da cama o Tico ou o Teco, um dos meus dois neurônios de estimação.
Nada. Nenhum dos dois acordou nessa cabeça loira. Atendi o telefone mesmo assim. A mesma voz empolgadíssima do outro lado da linha – pensei, essa dormiu com o Brad, pra ter acordado nesse entusiasmo…. bem deixei para lá maiores especulações e respondi algo ente oi, ah, que ou alô, não sei se tudo junto e também não necessariamente nessa ordem.
“A Vanessa, por favor?” Suspirei, já um tanto quanto irritada com a insistência da dita cuja. Oras, que petulância, oito horas da manhã de sábado, por acaso é hora de ligar por engano pra casa de alguém? Sacudi a cabeça. Nada da dupla acordar. Reuni toda a paciência que me restava, depois de ter o sono interrompido pela segunda vez, e expliquei pausadamente para a criatura empolgadíssima do outro lado da linha “Minha senhora, aqui não tem nenhuma Vanessa, a senhora discou para o número errado de novo…” Ela justificou-se alegando que tinha aquele número, o MEU número como sendo da Vanessa… resmunguei que não conhecia nenhuma Vanessa.
Virei pro lado e me certifiquei que até os cabelos estavam cobertos. Dormi o sonho dos justos. Pena que o Zulu e o Brad devam ter ficado entediados me esperando adormecer e abandonaram meus sonhos. Já que eles se foram, nem sonhei… ou talvez eu tenha me escondido tanto embaixo do travesseiro que quando eles vieram entrar no meu sonho não me encontraram e foram embora… é, pode ter sido isso mesmo.
Onze horas da manhã, com a cútis restaurada, parecia até mais hidratada (e não foi porque eu babei não, eu durmo de boca fechada!), eis que toca o telefone. Atendo, digo alô e bom dia, na mesma frase para parecer educada… uma voz um tanto familiar pergunta, não entendi na hora o motivo, um pouco titubeante “Me desculpe, mas tenho esse número como sendo da Taiana Vanessa, ela se encontra?”
“Taiana Vanessa”… familiar assim só podia ser eu mesma! “Sim”, respondo “é ela mesma…” Também não entendi direito na hora o motivo, a causa e a circunstância da criatura do outro lado da linha ter suspirado e dito “ainda bem…” Enfim, dado o recado que se destinava à minha mãe, desliguei o telefone pensando que já tinha ouvido aquela voz… olhei na lista de chamadas, o dito número já tinha ligado outras duas vezes.
Foi voltando à minha mente o mico que eu tinha pagado. Mico não gorila. Tá bom, King Kong.
Enfiei a cara debaixo das cobertas, mas não permaneci por muito tempo, estava engasgando de tanto rir… pois é, pensei, me supero a cada dia…
domingo, 25 de outubro de 2009
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